O trabalho como sinônimo de educação é uma verdade cultural arraigada em nossa sociedade desde os tempos da imigração européia. Veio de lá do outro lado do Atlântico a idéia de que o trabalho enobrece o homem. Não é preciso pensar muito (mas é preciso pensar) para perceber a falsidade deste axioma. Respondam rápido: quem conhece um nobre que trabalha?

Outra matriz cultural que nos confunde é a nossa forte ligação com o campo. Para um colono é indiscutível a necessidade de apresentar seu filho às lidas da lavoura e aos cuidados com os animais ainda na infância. Na roça não existem cursos de inglês ou computação ou escolinhas de futebol e violão para os pais deixarem os filhos enquanto estão cuidando da terra. Na colônia a prática vem antes da teoria: a criança tem de fazer para aprender. Vem daí a tal idéia da escola da vida tão argüida em nossas cidades por simplicidade ou má fé nos discursos favoráveis ao trabalho braçal de adolescentes.

A obrigação de todo pai, seja no campo ou na cidade, é zelar sempre para que seus filhos aprendam a se cuidar o quanto antes. Minha mãe, ela mesma uma colona filha de imigrante italiano, na sua lucidez interiorana costuma dizer que o trabalho de toda criança é estudar. Nas cidades, uma criança começa a trabalhar muito antes de uma do campo. Ninguém pega de fato na enxada antes dos oito ou dez anos, mas somos apresentados às letras já na pré-escola.

A verdade é que a vida não educa. A vida nos cobra educação. Por isso está firmado no Estatuto da Criança e do Adolescente: pai que tira o filho da escola tem de se haver com a lei. Porque toda criança tem o direito à educação. Assim, o filho de um homem do campo também tem o direito de formar-se engenheiro e para isso precisa madrugar desde criança na fábrica dos livros chamada Escola.